Sobre segundas chances e murros em pontas de faca
Foi muito difícil aceitar
que não dava mais. Que não valia mais a pena. O desgaste, as noites perdidas,
as ligações inoportunas, as mensagens de madrugada. Que até mesmo os filmes do Spielberg com todos
aqueles efeitos pra me entreter, não faziam mais sentido se não tivesse você ao
lado, sem entender quase nada, me fazendo contar toda a história outra vez.
Lembro-me do que foi
para nós o “doce dezembro”, de quando nos víamos nem que fosse para rir da cara
do outro, sem motivo algum. Das mensagens que eu recebia em que você externava
impulsividade e insegurança, mas que para mim só pareciam mais apaixonadas e
que eu deixava salva, só pra ler e reler antes de dormir. De te ver usando meu
blusão cinza listrado enquanto fazia o café pra mim. Das vezes em que nossas
discussões terminavam em beijos apaixonados e no frio na barriga que eu sentia toda
vez que te via. Atrapalhado tudo o que falei, talvez.
Sinto falta de olhar tuas fotos todos os dias
pela internet, e depois ainda olhar para elas na pasta salva por você mesma com
o nome “Amore”, rir do teu italiano capenga daquele cursinho chinfrim. Me pego pensando
do quanto eu fingia ter experiência em relacionamentos, querendo parecer tão
seguro na tua frente, mesmo sabendo que no fundo, você me via como um meninão. Eu
rio até de pensar o quanto minha mãe te odiava, sem nem ao menos te conhecer. Já
fazia vários meses, e ainda assim eu escutava toda noite aquela música que você
escreveu em meu caderno, com alguns erros de português. Pores-do-sol não são
mais tão bonitos, poético e triste quem sabe, mas é que vê-los e não lembrar o
teu ritual de agradecimento aos deuses pelo dia que passou é impossível.
Dói saber que tudo
isso se foi. Que nosso amor se transformou em “Bom dia”. Mais difícil é pensar
que pra você superar essa história foi rápido, fácil e indolor.
Acontece que nosso
vínculo se desfez por inteiro. Por ironia do destino como dizem, aquelas
mensagens impulsivas e inseguras ficaram no celular que eu perdi em minha
última viagem. Aquele blusão cinza manchou na lavanderia. Você preferiu excluir
todas suas fotos da internet. Minha prima sem querer, apagou a pasta “Amore” do
meu computador. Disseram-me que ainda tem como recuperar. Mas eu preferi “me
recuperar” antes de fazê-lo. O cursinho de italiano foi substituído por um de
alemão. Até meu irmão arranjou uma namorada, minha mãe já tem um novo alguém
para odiar. Eu não tenho mais aquela nossa música em meu mp3. No entanto, mesmo
com pores-do-sol não tão bonitos, sempre que posso, eu repito aquele teu
ritual.
Acho que nosso tempo passou não
é? E ‘nem foi tempo perdido’. Ele durou o que tinha que durar, no começo do
nosso fim doeu (e talvez ainda doa). Acontece que novas segundas chances para
nós dois, só seriam murros em pontas de faca. Eu hoje parei de insistir em
reviver o que por si só já mostrou que não vale mais.