terça-feira, 21 de agosto de 2012


Sobre segundas chances e murros em pontas de faca


Foi muito difícil aceitar que não dava mais. Que não valia mais a pena. O desgaste, as noites perdidas, as ligações inoportunas, as mensagens de madrugada.  Que até mesmo os filmes do Spielberg com todos aqueles efeitos pra me entreter, não faziam mais sentido se não tivesse você ao lado, sem entender quase nada, me fazendo contar toda a história outra vez.

Lembro-me do que foi para nós o “doce dezembro”, de quando nos víamos nem que fosse para rir da cara do outro, sem motivo algum. Das mensagens que eu recebia em que você externava impulsividade e insegurança, mas que para mim só pareciam mais apaixonadas e que eu deixava salva, só pra ler e reler antes de dormir. De te ver usando meu blusão cinza listrado enquanto fazia o café pra mim. Das vezes em que nossas discussões terminavam em beijos apaixonados e no frio na barriga que eu sentia toda vez que te via. Atrapalhado tudo o que falei, talvez.

 Sinto falta de olhar tuas fotos todos os dias pela internet, e depois ainda olhar para elas na pasta salva por você mesma com o nome “Amore”, rir do teu italiano capenga daquele cursinho chinfrim. Me pego pensando do quanto eu fingia ter experiência em relacionamentos, querendo parecer tão seguro na tua frente, mesmo sabendo que no fundo, você me via como um meninão. Eu rio até de pensar o quanto minha mãe te odiava, sem nem ao menos te conhecer. Já fazia vários meses, e ainda assim eu escutava toda noite aquela música que você escreveu em meu caderno, com alguns erros de português. Pores-do-sol não são mais tão bonitos, poético e triste quem sabe, mas é que vê-los e não lembrar o teu ritual de agradecimento aos deuses pelo dia que passou é impossível.

Dói saber que tudo isso se foi. Que nosso amor se transformou em “Bom dia”. Mais difícil é pensar que pra você superar essa história foi rápido, fácil e indolor. 


Acontece que nosso vínculo se desfez por inteiro. Por ironia do destino como dizem, aquelas mensagens impulsivas e inseguras ficaram no celular que eu perdi em minha última viagem. Aquele blusão cinza manchou na lavanderia. Você preferiu excluir todas suas fotos da internet. Minha prima sem querer, apagou a pasta “Amore” do meu computador. Disseram-me que ainda tem como recuperar. Mas eu preferi “me recuperar” antes de fazê-lo. O cursinho de italiano foi substituído por um de alemão. Até meu irmão arranjou uma namorada, minha mãe já tem um novo alguém para odiar. Eu não tenho mais aquela nossa música em meu mp3. No entanto, mesmo com pores-do-sol não tão bonitos, sempre que posso, eu repito aquele teu ritual.


Acho que nosso tempo passou não é? E ‘nem foi tempo perdido’. Ele durou o que tinha que durar, no começo do nosso fim doeu (e talvez ainda doa). Acontece que novas segundas chances para nós dois, só seriam murros em pontas de faca. Eu hoje parei de insistir em reviver o que por si só já mostrou que não vale mais.